“Por que tu não escreve sobre amor?”, ela me sugere com aqueles olhos que parecem refletir um céu sem sol, sem nada – apenas o mais lírico e transbordado mar límpido de sensações que eu já havia navegado. Eu meio torto e nervoso (sempre fico assim na frente dela) respondo: “Sobre amor?”. Encontrava-me escasso de ideias e lamentava isso com minha amiga Mariana, pela qual nutria um afeto há muito tempo contínuo e há muito tempo abafado. Mas logo emendei a frase “é um tema tão banal, literatura de verdade não consegue angular ou perimetrar o amor, é por isso que a geração romântica afundou, é tudo ilusão de uma coisa que raramente acontece, sabe?”. Vejo que ela se sente um pouco incomodada com as últimas palavras. Sei disso porque os formatos dos seus olhos mudaram, abstiveram-se, criando uma negação ao meu ser, modificando um pouco da cor. Ela diminui os passos, caminha lentamente e começa a levantar aquelas jazidas brilhantes em minha e direção e, por fim, me encara, disparando: “não sei para ti, mas amar para mim não é tão difícil. Talvez tu tenhas o coração muito hermético, acho que há vários modos de gostar de algo ou de alguém, veja aquela árvore...” enquanto ela fala meus olhos seguem seu braço que aponta levemente para um Ipê mediano que acabamos de passar, porém, eu, por descaso, ou por causa daqueles olhos, não notara.
Ela suspende o nosso silêncio, a humilde pausa tão comum que existe ao analisarmos alguma situação e diz: “...aquela árvore..sabe em que época do ano estamos?” Agora, no meio dessa rua quieta, encaramos um ao outro, estáticos, e há algumas pequenas faíscas saindo de nós, daquelas que antecede
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